Última alteração: 2016-10-25
Resumo
Os anos 70 e 80 foram marcados pelos questionamentos da sociedade civil brasileira ao modelo econômico vigente, um modelo pautado no “crescimento econômico” no qual havia uma lógica de exploração predatória dos recursos naturais. Essa concepção hegemônica desconsiderava os impactos ambientais e outros modos de vida que não estavam inseridos no modelo dominante. Nos anos 90, a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento ( ECO 92) consolidou-se o paradigma desenvolvimento sustentável que visava a conciliação entre economia, sociedade e natureza como forma de substituição do modelo econômico anterior. Entretanto, esse novo modelo, não significou mudanças na realidade econômica atual, apenas retificou a premissa do “crescimento econômico” um discurso de que os problemas ambientais seriam resolvidos através de soluções técnicas. Esse modelo hegemônico vigente, responsável por pautar a forma de apropriação da natureza no Brasil é baseado na lógica urbano-industrial e de acordo com essa racionalidade, a apropriação da natureza se dá através da implantação de grandes projetos desenvolvimentistas em busca do lucro máximo.
Entretanto, existem comunidades que possuem lógicas distintas de apropriação da natureza em relação ao modelo dominante, em sua maioria possuem fortes vínculos com o território e a reprodução social da comunidade está intrinsicamente relacionada com o ambiente. Nesse sentido, não existe a separação entre homem e natureza para essas comunidades, essa relação está fortemente associada, em alguns casos pode-se dizer, que não vive sem a sua natureza (natureza que está que é atribuído valor simbólico e não valor monetário), como por exemplo, comunidades ribeirinhas, tribos indígenas, quilombolas e povos tradicionais.
Diante do que foi exposto, o objetivo desse trabalho é apresentar a relação homem/ natureza a partir das possibilidades de convívio e conflito gerados pelas diferentes formas de significação, uso e de apropriação dos recursos naturais, reconhecendo a existência de diferentes povos, com lógicas culturais e dinâmicas próprias de vida.
A metodologia utilizada para a produção desse trabalho foi pesquisa bibliográfica e observação participante de oficinas do Mapa de Conflitos Ambientais do Grupo de Pesquisa em Temáticas Ambientais (GESTA-UFMG), audiências públicas da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e atividades de pesquisa e extensão do caso de conflito ambiental acompanhados no período como bolsista do GESTA-UFMG.
O resultado encontrado foi que o modelo hegemônico dominante impõe sua racionalidade mercantil às comunidades tradicionais e/ou camponesas obrigando-as a modificarem suas formas “costumeiras” e culturais próprias, tornando-as invisíveis perante a sociedade. Em muitos casos, essas comunidades são deslocadas compulsoriamente do ambiente em que vivem, fazendo-as perderem o seu vinculo com o território. Entretanto, esses sujeitos invisibilizados pela lógica capitalista, não são passáveis no processo, se organizam em movimentos de resistência e denunciam as práticas de injustiça ambiental. No qual surge um processo social que alguns autores das Ciências Sociais denominam de conflito ambiental. Diante desse conceito, os conflitos ambientais se inserem em um contexto em que as comunidades denunciam práticas de injustiça ambiental. Práticas estas que se impõe de forma violenta sob esses sujeitos.
Como conclusão do trabalho, as diferentes formas de apropriação da natureza revelam que há uma disparidade das relações de poder entre o modelo hegemônico e os modelos locais de natureza, em que o modelo hegemônico possui condições econômicas e politicas de se impor perante as comunidades tradicionais e as tribos indígenas. O conflito ambiental então se dá nesse contexto de luta por justiça ambiental e se apresenta como uma forma de revelar vozes de grupos que possuem uma alternativa de apropriação da natureza diferente do modelo mercantilista-industrial. Vozes essas que denunciam injustiças ambientais sofridas e que se organizam em um movimento de resistência para que a reprodução dos seus modos de vida, seus patrimônios socioculturais e seus territórios permaneçam para as suas gerações futuras
palavras chaves: relação x natureza, conflitos ambientais, justiça ambiental